Maceió

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Ilha do Carlito

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

                                      ENSINAR PRA QUÊ?
     O final do ano se aproxima célere. Estamos adentrando o mês de novembro.
     É o início de mais uma manhã. Ressoa o sinal, os alunos se dirigem até o segundo andar da Escola e me aguardam diante da porta  da sua sala de  aula. São os alunos de oitava série. É dia de prova, Língua Portuguesa.
     Aproximo-me deles, sondando-os, esperando encontrar apenas alguma manifestação de preocupação, inquietação ou de interesse pelo que poderá cair na prova, afinal o conceito desta prova influenciará na aprovação ou reprovação deles. Tudo é como todos os dias, nada fora de seu cotidiano escolar. Cumprimento-os e abro a porta da sala de aula. Cada um ocupa o seu lugar já previamente combinado. Peço para alguns trocarem de lugar afim de evitar ser surpreendida com as trocas de “mensagens”.  Pergunto se alguém tem alguma dúvida, em relação aos conteúdos da prova. Ninguém. Conheço o verso de uma música que diz: “ Não to nem aí... não to nem aí...”. Sinto-me bruxoleante ao imaginar o resultado negativo dos conceitos cuja prova foi elaborada com tanto carinho, arroubo e encantamento, afinal a “Formação das Palavras” é um conteúdo não tão difícil assim.
     Dou os avisos iniciais e rotineiros. De repente, pasmem... uma aluna me diz que está preocupada com a prova. Só que justamente esta aluna sempre foi aplicada, responsável e interessada. Mas, e os outros?
     Passo de fila em fila, distribuindo as provas. Leio todas as questões e oriento-os para que  o façam com calma e tranquilidade. Enquanto isso observo “aquelas” adoráveis carinhas e o que vejo? Nada que me leve a crer que houve um comprometimento maior. Desanimada e desalentada, permito-lhes que resolvam as questões com consulta. Talvez o resultado seja melhor. Noto que uma grande maioria fica decepcionada por não ter copiado a matéria. Será que isso é um bom sinal para as próximas provas?
     Continuo observando-os. O relógio cronometra apenas 15 minutos após o início da entrega das provas e muitos alunos já estão prontos, quando 60 questões deveriam ser respondidas, no mínimo, em 40 minutos. Surpresa? Não, isto é normal e rotineiro.
     O desânimo e o arrefecimento tomam conta de mim e, então, eu me pergunto: Onde está aquele aluno que, nos dias de provas, chegava na escola com o caderno aberto, se reunia com seus colegas mais íntimos e intercambiava informações pra ver se dominava bem os conteúdos da prova? Onde está aquele aluno “ligado”, comprometido e responsável com seus estudos? Onde andam aqueles colegas Professores que se reuniam durante as reuniões pedagógicas, para discutir sobre as melhores técnicas e metodologia, objetivando um índice de reprovação mínimo? Onde estão os pais de nossos alunos que não vêm ao nosso encontro para saber em que “pé” está a aprendizagem de seu filho?
      Já nada mais me surpreende, nem mesmo quando um ou outro colega me diz “que não mais faz prova”, pra quê?
                                                                   “ O que mata um jardim não
                                                                                          é o abandono...
                                                                   O que mata um jardim
                                                                                          [ é esse olhar vazio
                                                                   De quem por ele passa indiferente.”
                                                                                             Mario Quintana
     E assim é a luta diária de um professor. Ano após ano, venho observando o verdadeiro “caos” instalado nas nossas escolas públicas. Vejo um mundo ao meu redor correndo freneticamente por caminhos e objetivos diversos cujos interesses são outros e a educação, cada vez mais, me olha “pálida” e “esvaecida”, me acenando de longe, de muito longe.
                                                                Alda Maria Kruse da Costa
                                                                Professora de Língua Portuguesa