Maceió

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Ilha do Carlito

sábado, 2 de junho de 2012

APRENDENDO A CONVIVER COM AS DIFERENÇAS


                              CONVIVENDO COM AS DIFERENÇAS


     Eu tenho um grupo de amigos com os quais tenho convivido quase que seguidamente, ora em viagens, ora em jantares, ora em festas.Com a sequência de encontros, tornamo-nos íntimos ou quase íntimos.Todos nos gostamos  muito,  quando viajamos fazemos de tudo para que todos possam estar presentes e sentimos a falta uns dos outros,  quando não nos vemos um ou outro final de semana.


     Mas nem tudo é tão perfeito assim. Há as diferenças e temos que aprender a conviver com elas. Muitas vezes, tentando acertar colidimos uns com os outros. E, nessas colisões, às vezes alguém se machuca. É assim que as coisas funcionam.


     Vou tentar me fazer entender melhor.  Eu tenho uma cachorrinha, por exemplo, que absorve grande parte do meu precioso tempo. Talvez tenha cometido uma insanidade ao comprá-la, com dois meses de idade. Agora Ela  está com cinco anos e já faz parte da família. Sei que além do trabalho que ela me dá, ela também me custa dinheiro com remédios, vacinas e banhos semanais. No entanto, em compensação as alegrias são inúmeras. Agora, por exemplo, é madrugada, estou só, mas ela está do meu lado me fazendo companhia, não fala, mas o seu silêncio e o seu olhar são como bálsamos que me confortam e me inspiram nestes momentos.


     Há amigos que sei que me condenam por eu ter a Mel, a minha cachorrinha, que não entendem que eu preciso antecipar as minhas saídas de determinados  encontros para alimentá-la ou levá-la para fazer as suas necessidades fisiológicas, e por aí vai... Quando vão jantar lá em casa não percebem que a única coisa que a Mel quer é um pouquinho de atenção e carinho, afinal, quem não gosta?


     Mas até aí tudo bem, entendo e respeito aqueles que não gostam de animais.


     Em contrapartida, há “coisas” que eles fazem e que eu também não consigo entender. Tenho um casal de amigos que, mesmo nos dias mais frios e chuvosos do ano, eles vão, todas às quintas-feiras,  a um bailinho de terceira idade, na sociedade Orpheu de São Leopoldo. Sair de casa nestes dias, não há quem aguente, e lá vão eles. Se há outros compromissos, estes são deixados de lado, em prol do tal bailinho. Cá fico eu pensando comigo mesma: ” Será que não seria melhor  curtir uma lareira e bebericar um vinho na companhia um do outro?”  Mas isto é opção deles, tenho que respeitá-la.


     Outro casal de  amigos mora  a vinte ou trinta minutos do centro de São Leopoldo, em Lomba Grande. O acesso até a moradia deles é íngreme, alcantilado e ladeirento, no entanto, é difícil o dia que eles não vêm ao centro almoçar, jantar ou dançar, o que implica em gastos com combustível, desgaste do carro,  perda de tempo, devido a distância, sem contar que, em dias de chuva, enfrentam lamas e buracos; em dias de calor, a poeira que é  insuportável. Além disso, há os riscos de acidentes ou assaltos, pois na maior parte das vezes eles retornam pra casa de madrugada. Não consigo entender o porquê de tanto sacrifício, mas tenho que respeitar o seu estilo de vida.


     Com exceção dos amigos que moram em Lomba Grande, os demais residem em apartamentos. Eu morei muitos anos em apartamento também, hoje moro em casa. Alguns não conseguem entender por que eu ainda moro em casa, já que um apartamento dá menos trabalho e é mais seguro.  Não entendem que a liberdade e o espaço amplo que uma casa nos proporciona não tem igual. Além disso, há a possibilidade de mexer na terra, plantando, cultivando e regando as plantas. Sempre há o que fazer numa casa, a rotina não faz parte do cotidiano de quem mora nela. Pois bem, a minha cachorra e a minha casa são opções minhas e de mais ninguém. Talvez um dia, eu perceba que está na hora de retornar para um apartamento.

     Outro dia, fui jantar na casa de  alguns conhecidos que não fazem parte do costumeiro grupo e senti que uma amiga do grupo ficou magoada por não ter sido convidada. Aliás, não sei bem o que ela pensou. Certa vez, eu li um livro cujo título é “Ninguém é de ninguém”, não lembro quem o escreveu, o certo é que com ele aprendi a conviver melhor com as pessoas, respeitá-las e não monopolizá-las o tempo inteiro. Penso que todo mundo deveria lê-lo para melhor entender o sentido da vida. 



     E assim é a vida, assim são as pessoas. Cada um é diferente um do outro e temos que aceitá-las do jeitinho que elas são. Imaginem se todos nós tivéssemos as mesmas opiniões, os mesmos gostos... tudo  seria tão sem graça, tão sem emoção.



     Aprendi, com o passar dos anos, a não me consumir com as escolhas feitas pelos meus amigos, me permitindo também ser diferente. E o que me atrai nesses meus amigos é  justamente estas diferenças, enxergar o lado bom e alegrar-me com isso faz com que esta convivência se torne mais leve e, de certa forma, contagiante.



     Na verdade, o que eu quis dizer até aqui é que devemos respeitar a singularidade  de cada um e o seu estilo de vida e que sempre temos a aprender uns com os outros. É difícil encontrar duas pessoas que, estando na mesma situação, vivam no mesmo mundo. O interior é que vai fazer com que o exterior seja positivo ou negativo. E a escolha depende unicamente de cada um. Assim, se eu realmente sou teu amigo eu enxergo o teu lado bom e me alegro com isso, tornando essa convivência leve e prazerosa.   



     Nunca disse, pessoalmente,  a esses meus amigos o quanto eles são importantes pra mim e o quanto necessito da sua companhia  para andar pelos caminhos da poesia e quando já não estiver mais aqui, ao ingressar no mundo espiritual, quero ser recebida por eles e por tantos outros, pois sem meus amigos não sou mais do que um simples grãozinho de areia, cujo significado, para a maioria das pessoas, não tem importância alguma.
                                                  Alda Maria Kruse da Costa













                                    
                                                     Alda Maria Kruse da Costa

                                                                          maio de 2012

Um comentário:

  1. Uma amiga, ao ler a crônica "Aprendendo a conviver com as diferenças", me disse, espantada,"que eu tinha muita coragem em falar sobre os meus amigos daquela forma".Justifico-me dizendo que se eles não fossem meus amigos de verdade e porque a intimidade entre nós é tão infinitamnete grande, certamente faltaria coragem e audácia.Todos eles sabem que os amo muito e que faria qualquer coisa por eles.Todos somos cúmplices uns dos outros e nunca estamos sozinhos, nos momentos bons e festivos, mas,sobretudo, nos momentos de dissabores sabemos que podemos contar com qualquer um deles. Aliás, por diversas vezes tive a feliz oportunidade de constatar o que estou dizendo. Em "Aprendendo a conviver com as diferenças" os meus comentários são genuínos e altruísticos, sem intenção de ferir alguém, muito pelo contrário, quis apenas deixar claro que para se ter um grupo assim de amigos temos que respeitar as diferenças e a singularidade de cada um.
    Alda Maria Kruse da Costa

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