CONVIVENDO COM AS
DIFERENÇAS
Eu tenho um grupo de amigos com os quais
tenho convivido quase que seguidamente, ora em viagens, ora em jantares, ora em
festas.Com a sequência de encontros, tornamo-nos íntimos ou quase íntimos.Todos
nos gostamos muito, quando viajamos fazemos de tudo para que todos
possam estar presentes e sentimos a falta uns dos outros, quando não nos vemos um ou outro final de
semana.
Mas nem tudo é tão perfeito assim. Há as
diferenças e temos que aprender a conviver com elas. Muitas vezes, tentando
acertar colidimos uns com os outros. E, nessas colisões, às vezes alguém se
machuca. É assim que as coisas funcionam.
Vou tentar me fazer entender melhor. Eu tenho uma cachorrinha, por exemplo, que
absorve grande parte do meu precioso tempo. Talvez tenha cometido uma
insanidade ao comprá-la, com dois meses de idade. Agora Ela está com cinco anos e já faz parte da família.
Sei que além do trabalho que ela me dá, ela também me custa dinheiro com
remédios, vacinas e banhos semanais. No entanto, em compensação as alegrias são
inúmeras. Agora, por exemplo, é madrugada, estou só, mas ela está do meu lado
me fazendo companhia, não fala, mas o seu silêncio e o seu olhar são como
bálsamos que me confortam e me inspiram nestes momentos.
Há amigos que sei que me condenam por eu
ter a Mel, a minha cachorrinha, que não entendem que eu preciso antecipar as
minhas saídas de determinados encontros
para alimentá-la ou levá-la para fazer as suas necessidades fisiológicas, e por
aí vai... Quando vão jantar lá em casa não percebem que a única coisa que a Mel
quer é um pouquinho de atenção e carinho, afinal, quem não gosta?
Mas até aí tudo bem, entendo e respeito
aqueles que não gostam de animais.
Em contrapartida, há “coisas” que eles
fazem e que eu também não consigo entender. Tenho um casal de amigos que, mesmo
nos dias mais frios e chuvosos do ano, eles vão, todas às quintas-feiras, a um bailinho de terceira idade, na sociedade
Orpheu de São Leopoldo. Sair de casa nestes dias, não há quem aguente, e lá vão
eles. Se há outros compromissos, estes são deixados de lado, em prol do tal
bailinho. Cá fico eu pensando comigo mesma: ” Será que não seria melhor curtir uma lareira e bebericar um vinho na
companhia um do outro?” Mas isto é opção
deles, tenho que respeitá-la.
Outro casal de amigos mora a vinte ou trinta minutos do centro de São
Leopoldo, em Lomba Grande. O acesso até a moradia deles é íngreme, alcantilado e
ladeirento, no entanto, é difícil o dia que eles não vêm ao centro almoçar,
jantar ou dançar, o que implica em gastos com combustível, desgaste do carro, perda de tempo, devido a distância, sem contar
que, em dias de chuva, enfrentam lamas e buracos; em dias de calor, a poeira
que é insuportável. Além disso, há os
riscos de acidentes ou assaltos, pois na maior parte das vezes eles retornam
pra casa de madrugada. Não consigo entender o porquê de tanto sacrifício, mas tenho
que respeitar o seu estilo de vida.
Com exceção dos amigos que moram em Lomba
Grande, os demais residem em apartamentos. Eu morei muitos anos em apartamento
também, hoje moro em casa. Alguns não conseguem entender por que eu ainda moro
em casa, já que um apartamento dá menos trabalho e é mais seguro. Não entendem que a liberdade e o espaço amplo
que uma casa nos proporciona não tem igual. Além disso, há a possibilidade de
mexer na terra, plantando, cultivando e regando as plantas. Sempre há o que
fazer numa casa, a rotina não faz parte do cotidiano de quem mora nela. Pois
bem, a minha cachorra e a minha casa são opções minhas e de mais ninguém. Talvez
um dia, eu perceba que está na hora de retornar para um apartamento.
Outro dia, fui jantar na casa de alguns conhecidos que não fazem parte do
costumeiro grupo e senti que uma amiga do grupo ficou magoada por não ter sido
convidada. Aliás, não sei bem o que ela pensou. Certa vez, eu li um livro cujo
título é “Ninguém é de ninguém”, não lembro quem o escreveu, o certo é que com
ele aprendi a conviver melhor com as pessoas, respeitá-las e não monopolizá-las
o tempo inteiro. Penso que todo mundo deveria lê-lo para melhor entender o
sentido da vida.
E assim é a vida, assim são as pessoas.
Cada um é diferente um do outro e temos que aceitá-las do jeitinho que elas
são. Imaginem se todos nós tivéssemos as mesmas opiniões, os mesmos gostos...
tudo seria tão sem graça, tão sem
emoção.
Aprendi, com o passar dos anos, a não me
consumir com as escolhas feitas pelos meus amigos, me permitindo também ser
diferente. E o que me atrai nesses meus amigos é justamente estas diferenças, enxergar o lado
bom e alegrar-me com isso faz com que esta convivência se torne mais leve e, de
certa forma, contagiante.
Na verdade, o que eu quis dizer até aqui é
que devemos respeitar a singularidade de
cada um e o seu estilo de vida e que sempre temos a aprender uns com os outros.
É difícil encontrar duas pessoas que, estando na mesma situação, vivam no mesmo
mundo. O interior é que vai fazer com que o exterior seja positivo ou negativo.
E a escolha depende unicamente de cada um. Assim, se eu realmente sou teu amigo
eu enxergo o teu lado bom e me alegro com isso, tornando essa convivência leve e
prazerosa.
Nunca disse, pessoalmente, a esses meus amigos o quanto eles são
importantes pra mim e o quanto necessito da sua companhia para andar pelos caminhos da poesia e quando
já não estiver mais aqui, ao ingressar no mundo espiritual, quero ser recebida
por eles e por tantos outros, pois sem meus amigos não sou mais do que um
simples grãozinho de areia, cujo significado, para a maioria das pessoas, não
tem importância alguma.
Alda Maria Kruse da Costa
Alda Maria Kruse da Costa
Uma amiga, ao ler a crônica "Aprendendo a conviver com as diferenças", me disse, espantada,"que eu tinha muita coragem em falar sobre os meus amigos daquela forma".Justifico-me dizendo que se eles não fossem meus amigos de verdade e porque a intimidade entre nós é tão infinitamnete grande, certamente faltaria coragem e audácia.Todos eles sabem que os amo muito e que faria qualquer coisa por eles.Todos somos cúmplices uns dos outros e nunca estamos sozinhos, nos momentos bons e festivos, mas,sobretudo, nos momentos de dissabores sabemos que podemos contar com qualquer um deles. Aliás, por diversas vezes tive a feliz oportunidade de constatar o que estou dizendo. Em "Aprendendo a conviver com as diferenças" os meus comentários são genuínos e altruísticos, sem intenção de ferir alguém, muito pelo contrário, quis apenas deixar claro que para se ter um grupo assim de amigos temos que respeitar as diferenças e a singularidade de cada um.
ResponderExcluirAlda Maria Kruse da Costa