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Ilha do Carlito

domingo, 29 de abril de 2012

A CAMINHO DA PLENITUDE



A CAMINHO DA PLENITUDE    


     Quando se é jovem, o que se quer é ter um uma vida intensa e agitada. Depois dessa fase, vem o casamento e com ele os filhos. Somado a tudo isso, os problemas que não são poucos.  E a gente vai levando, vai enfrentando os embates da vida, driblando-os.


     Chega, então, um tempo, quando se tem mais idade, por volta dos sessenta anos, o que se quer é serenidade.


     Agora, por exemplo, estou completamente só e, por incrível que pareça, feliz. É tempo de férias, verão, praia. Sei que já é noite avançada, pois não ouço barulho no prédio em que moro nem tampouco carros passando pela rua. Não me importo nem um pouco com o horário, pois amanhã não preciso me acordar às 6 horas, me arrumar, tomar café e ir pra escola.


      De alma bem leve, coração sereno e tranquilo, mergulho em mim mesma, e enquanto escrevo, ouço o barulho do mar. Quanto prazer, quanta paz de espírito...


      Não há cobranças, meu marido não está, a minha cachorrinha a quem tanto amo, também não está, nem o tic tac do relógio para me avisar que já é hora de ir pra cama.


     Aos pouquinhos, vou me descobrindo que para se ser feliz, não é preciso estar rodeado de gente, basta estar consigo mesmo. São momentos como este, imprescindíveis, para que possamos pensar e compreender a si próprio, ao outro, até mesmo à época que estamos construindo. Estes momentos nos renovam, recarregam a bateria para novos enfrentamentos.


     Isto é parte do que sempre quis, tanto quanto a ar que respiro, a glória de estar por alguns momentos só, após meses de trabalho e de preocupações com meus alunos. E é este silêncio que me leva à reflexão para que eu possa entender-me e entender aos outros.  Quero, por alguns instantes, me esquecer que lá fora, há alguém sendo roubado, assaltado ou desrespeitado. Quero esquecer os desaforos que, muitas vezes, temos que engolir, porque fomos ensinados que o amor e o respeito devem ser fortes o suficiente para aguentar os  revezes da convivência. Quero aproveitar estes momentos para fingir que só tenho responsabilidades comigo mesma, embora saiba que lá, no meu íntimo, o amor pelos meus filhos, neta e marido vem, às vezes, acompanhado de  problemas que me deixam angustiada.     


     Por algumas horas, pretendo ficar aqui, no meu porto seguro, falando comigo mesma e ouvindo o sibilar das ondas do mar. Neste momento, estou olhando pela janela e vendo as estrelas que deslizam em sua dança de anjos, e a lua,que  brilha como uma moeda de prata, olha para mim. É pura magia. A noite é só minha. E este momento também.


      Amanhã será outro dia, certamente não estarei mais sozinha e os meus pensamentos já não serão mais só meus, serão compartilhados com outras pessoas. E aí tudo voltará à normalidade do dia a dia. Mas a vida tem me ensinado que devemos impor a nós mesmos momentos de meditação e entrega. E que não devemos deixar que nos impeçam de fazer o que precisamos fazer. Que devemos imprimir a nossa marca no mundo, tornando-a profunda para durar.


     E, ao me acordar, sem horário marcado, quero me espreguiçar languidamente sobre os meus lençóis macios e delicados, arrumar a mesa do café com toda a dignidade e aparato merecidos e bem no centro da mesa estará, como sempre, a minha flor preferida: a orquídea branca que, com certeza, estará me agradecendo por lhe fazer companhia. E enquanto absorvo o meu café, contemplo-a, admirando as suas pétalas brancas e o seu miolo levemente amarelado se assemelhando a uma boca semi aberta,como se quisesse me dizer: “ bom dia, eu te amo”!  E como protagonista desta cena, estarão, do outro lado da rua, as alvas ondas que se movimentam frenéticas como se fossem bailarinas dançando sobre as águas revoltas dos mares do nosso litoral gaúcho.


     Uma leve brisa com cheiro de mar me acordou de meus devaneios e me alertou que já é hora de ir pra cama.
29/04/2012
                                                            Alda Maria Kruse da Costa                              


                                           

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