A DESPEDIDA
Após ter transcorrido
alguns meses, resolvi, finalmente, publicar as emoções finais vividas no
momento em que eu tive que me despedir do meu “castelinho”, como era chamada a
minha casa por alguns amigos. Dizem que este apelido foi-lhe dado por conta de
sua iluminação farta e generosa que vez por outra havia, quando recebíamos
nossos amigos para um jantar .
Não é fácil a gente se despedir de um lugar
onde fomos tão felizes, onde a vida sempre se mostrou sorrindo e onde tudo era espaçoso
e amplo. E quando esta casa foi construída do jeitinho como queríamos torna-se,
indubitavelmente, uma decisão muito difícil.
Foi o que aconteceu
comigo naquele momento. Ainda estou nela, a mudança ainda não foi feita, mas o
fato já foi consumado. Não há nada mais a fazer. Meditei, considerei, avaliei e
medi. Arrependimento? Não, tudo foi
muito bem pensado. Certa vez, escrevi em uma das minhas crônicas que quando
chegasse o momento certo, venderia a minha casa. E este momento chegou. Minha
aposentadoria me acena, dizendo estar chegando; minha neta, que mora em
Fortaleza, me dizendo que está com saudades e que me ama; o inverno que se
aproxima sem dó nem piedade. São tantos os encontros e os desencontros que já
nem sei ao certo onde a felicidade se
esconde.
É tarde, aproxima-se da meia noite, sozinha,
mergulho em mim mesma. Sentada em minha área, ouço o barulho de uma fina, tênue
e tímida chuva que cai sobre o tapete
verde em frente a minha casa. Olho para o jardim e noto que o tronco da
palmeira que eu plantei há seis anos atrás está inclinado para o lado da grade
que contorna a casa; um pouquinho mais para a esquerda, vejo a minha árvore
preferida e que todos os anos me oferece lindas flores vermelhas e ornamenta o
meu jardim. Agora ela já não está também tão ereta como antes, está amarrada por uma corda a um dos pilares
da área,como tentativa de mantê-la firme e forte outra vez. O último vendaval
quase a destruiu e a arrancou de sua moradia. Algumas lajotas do piso que dá
acesso à garagem dos carros e que antes seguia um único modelo, formando arabescos
agora já está com falhas e a relva
que cresce por entre as pedras está pálida com a chegada do inverno. Algumas
pedras já não existem mais, a água das constantes chuvas destruiu-as,
fazendo aparecer a massa cinzenta e cruel,
tornando as restantes pedras frias e inescrupulosas.
Talvez o meu
subconsciente não quisesse assistir ao último suspiro destas tão queridas
amigas, com as quais tive o prazer de conviver durante todos estes anos. Agora,
olhando mais demoradamente para uma delas, a minha árvore preferida, percebo que
ela está triste e acabrunhada, suas folhas estão inclinadas para baixo como se
quisessem, tristemente, me dizer adeus. As demais flores dormem agora, sob a
chuva e o vento frio do inverno que se aproxima.
Noto que a chuva está
gradativamente aumentando e a grama reluz. Logo, logo hastes verdes e novas
começarão a surgir entre as velhas, anunciando uma nova estação e eu já terei
partido, os novos donos desta casa farão a sua própria história. Espero que sintam
pelas minhas amigas o mesmo sentimento que eu nutria por elas, carinho, amor e
gratidão por elas fazerem parte da minha vida.
Neste exato momento,
ouço, ao longe, um sino que toca ou seria a buzina de um carro? Não sei ao certo, mas sinto magia e música no ar. Olho para o
horizonte e vislumbro algo mais, a certeza de que melhores dias ainda virão.
Maio de 2013.