Maceió

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Ilha do Carlito

segunda-feira, 22 de julho de 2013

A Despedida


                                                                           

                                                                           A  DESPEDIDA

                        Após ter transcorrido alguns meses, resolvi, finalmente, publicar as emoções finais vividas no momento em que eu tive que me despedir do meu “castelinho”, como era chamada a minha casa por alguns amigos. Dizem que este apelido foi-lhe dado por conta de sua iluminação farta e generosa que vez por outra havia, quando recebíamos nossos amigos para um jantar .

                       Não é fácil a gente se despedir de um lugar onde fomos tão felizes, onde a vida sempre se mostrou sorrindo e onde tudo era espaçoso e amplo. E quando esta casa foi construída do jeitinho como queríamos torna-se, indubitavelmente, uma decisão muito difícil.

                       Foi o que aconteceu comigo naquele momento. Ainda estou nela, a mudança ainda não foi feita, mas o fato já foi consumado. Não há nada mais a fazer. Meditei, considerei, avaliei e medi.  Arrependimento? Não, tudo foi muito bem pensado. Certa vez, escrevi em uma das minhas crônicas que quando chegasse o momento certo, venderia a minha casa. E este momento chegou. Minha aposentadoria me acena, dizendo estar chegando; minha neta, que mora em Fortaleza, me dizendo que está com saudades e que me ama; o inverno que se aproxima sem dó nem piedade. São tantos os encontros e os desencontros que já nem sei  ao certo onde a felicidade se esconde.

                         É tarde, aproxima-se da meia noite, sozinha, mergulho em mim mesma. Sentada em minha área, ouço o barulho de uma fina, tênue e tímida  chuva que cai sobre o tapete verde em frente a minha casa. Olho para o jardim e noto que o tronco da palmeira que eu plantei há seis anos atrás está inclinado para o lado da grade que contorna a casa; um pouquinho mais para a esquerda, vejo a minha árvore preferida e que todos os anos me oferece lindas flores vermelhas e ornamenta o meu jardim. Agora ela já não está também tão ereta como antes,  está amarrada por uma corda a um dos pilares da área,como tentativa de mantê-la firme e forte outra vez. O último vendaval quase a destruiu e a arrancou de sua moradia. Algumas lajotas do piso que dá acesso à garagem dos carros e que antes seguia um único modelo, formando  arabescos  agora já está com falhas e a relva  que cresce por entre as pedras está pálida com a chegada do inverno. Algumas pedras já não existem mais, a água das constantes chuvas destruiu-as, fazendo  aparecer a massa cinzenta e cruel, tornando as restantes pedras frias e inescrupulosas.

                       Talvez o meu subconsciente não quisesse assistir ao último suspiro destas tão queridas amigas, com as quais tive o prazer de conviver durante todos estes anos. Agora, olhando mais demoradamente para uma delas, a minha árvore preferida, percebo que ela está triste e acabrunhada, suas folhas estão inclinadas para baixo como se quisessem, tristemente, me dizer adeus. As demais flores dormem agora, sob a chuva e o vento frio do inverno que se aproxima.  

                       Noto que a chuva está gradativamente aumentando e a grama reluz. Logo, logo hastes verdes e novas começarão a surgir entre as velhas, anunciando uma nova estação e eu já terei partido, os novos donos desta casa farão a sua própria história. Espero que sintam pelas minhas amigas o mesmo sentimento que eu nutria por elas, carinho, amor e gratidão por elas fazerem parte da minha vida.

                      Neste exato momento, ouço, ao longe, um sino que toca ou seria a buzina de um carro? Não sei ao certo, mas sinto magia e música no ar. Olho para o horizonte e vislumbro algo mais, a certeza de que melhores dias ainda virão.

                                                                                                     Maio de 2013.

                                                                     Alda Maria Kruse da Costa


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