Maceió

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Ilha do Carlito

segunda-feira, 24 de junho de 2013

ENTRE A DOR E O PRAZER


                                       ENTRE A DOR E O PRAZER 

     Besteiras todo mundo faz, mas aos sessenta anos de idade é inadmissível se cometer certos excessos. Foi o que aconteceu comigo, quando meu marido e eu chegamos ao aniversário de um amigo. A dona da casa, muito prendada e excelente anfitriã, serviu-nos como entrada ao jantar que viria a seguir, fatias de pizza com sardinha. Como estava com muita fome, comi uns dois ou três pedaços da danada da pizza. Em seguida, vieram os famosos bolinhos de queijo, servidos em bandejas, as quais passavam de mãos em mãos. Que delícia! E lá fui eu, dois, três, quatro, perdi a conta... Os bolinhos vinham bem quentinhos e apetitosos.

     Quando se está com fome, nunca se pensa nas consequências. Bem, lá pelas tantas, vieram os famosos pastéis de carne fritos e acompanhados de dois tipos de sopa, a sopa de ervilha e a de “Capeletti”. E novamente, sem pensar no que poderia acontecer com meu amado e delicado estômago, me atraquei nos pastéis, três, quatro ou cinco, não me lembro quantos eu comi ao certo. Ah, claro, também provei um prato de cada tipo de sopa. Que maravilha! Para uma degustação melhor das iguarias, optei pelo vinho branco “Chardonnay”. Conversa vai e conversa vem! Que papo gostoso! Entre risadas e cantorias ao violão, foi-nos apresentado um “Buffet” de sobremesas. E é claro que tive que provar um pouco de cada uma delas. Uma melhor do que a outra. Tudo muito bom, tudo excelente e perfeito. No entanto, não sabia o que estava por vir.

     Ao chegarmos em casa, apenas para prevenir, tomei uma xícara de chá de marcela e me deitei. Em seguida, adormeci e fui acordada repentinamente, lá pelas tantas da madrugada, com uma terrível dor de barriga acompanhada por um forte enjoo. Deu tempo apenas de vestir meu “roupão” e me fui pro banheiro, onde devo ter permanecido lá por, pelo menos, uma hora.                                                   Depois de ter colocado todas aquelas delícias pra fora, tomei um banho bem quentinho, pra ver se passava aquela dor de cabeça insuportável e aquele mal estar; deitei-me, novamente, bem quietinha na cama pra não acordar o maridão. Mas foi aí que começou meu verdadeiro calvário. O danado do frio me apareceu de repente, tomando conta do meu pobre e sofrido corpo, mas um frio tão intenso que nem dois edredons e os braços do meu marido me envolvendo faziam com que eu parasse de tremer. Dizem os entendidos que quando acontece isso é porque a pressão está muito baixa.

     E enquanto todo meu corpo tremia de dor e frio, uma jovem, na calada da noite, gemia de prazer. E que prazer! E aquele ai,ai,ai, ai, me acompanhou durante todo o meu espasmo e aquilo parecia não querer terminar nunca mais e o tremor que percorria todo o meu corpo também não. Ela, talvez, desconhecesse o fato de que no silêncio de uma noite ou madrugada, quando se perde o sono, pode-se ouvir tudo, as freadas e as buzinas dos carros, o grito dilacerante de uma mulher, implorando por socorro, o choro de dor ou fome de uma criança, o ronco de um homem ou até mesmo as conversas dos vizinhos. Este é um dos problemas das acústicas dos edifícios, as paredes parecem ter ouvidos.

      Que falta de sorte! Nós duas, por motivos diferentes, gemíamos, ao mesmo tempo. Enquanto ela corria desenfreadamente rumo ao glorioso ápice, uma parte de mim clamava para que um novo dia se anunciasse e outra, torcia para que as drogas ingeridas me fizessem cair num sono profundo e que quando eu acordasse tudo não tivesse passado de um terrível pesadelo.

     Sento-me na cama e vislumbro, por entre as frestas da janela do meu quarto, algumas luzes acesas nos arranha-céus. É a aurora que se anuncia e com ela a esperança de um novo dia ensolarado e bem-aventurado.

     Certamente, aquela mulher nunca vai ficar sabendo que, enquanto a vizinha travava uma luta infernal contra a dor e o frio  avassalante que dominava todo o seu  ser, ela também lutava, mas ao contrário de mim, por um final sem dor alguma, um final exultante, prazeroso e triunfante.
                                                         24 de junho de 2013.                                         
                                                         Alda Maria Kruse da Costa

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