Maceió

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Ilha do Carlito

domingo, 2 de outubro de 2011

QUE CLIMA INFERNAL

      Outro dia, fui obrigada ir ao centro da cidade pagar umas contas. Era um daqueles dias de inverno em que o frio congela até o interior das pessoas. Esse clima de frio e chuva que parece não ter fim.
      Ao estacionar o meu carro, numa das ruas paralelas à rua principal do centro da cidade, antes de sair dele quase me flagrei ligando o motor pra retornar pra casa. Decidi, então, ficar ali, dentro do carro e observar o que se passava no exterior dele.
     Essa estação, quando dá pra ser rigorosa, não há quem aguente. Nestes dias de infortúnio, somos verdadeiros espectros de criaturas humanas, correndo apressados por chuvas e frios atassalhantes.
     Dali,  pude avistar uma moça que, ao sair de seu carro, quase foi empurrada pela porta do carro pra dentro de novo, de tão forte era o vento. Olhou pra mim e sorriu, mas o seu sorriso era sem graça, totalmente desprovido de qualquer motivação. Percebi angústia e pavor em seu olhar; os seus cabelos negros pareciam um espanador, voavam pra todos os lados, sem direção certa. Seus passos eram apressados, certamente louca pra chegar ao seu destino e retornar para o seu aconchego familiar.
     Uma senhora de idade caminhava apressada e com dificuldade, seu semblante era aterrorizante e seu pescoço estava coberto por um xale preto e sua cabeça estava adornada por uma touca também preta donde pendiam alguns fios de cabelos brancos. De seu nariz escorria uma mucosa branca e gelatinosa, e, vez por outra, um espirro se ouvia. Fiquei, ali, pensando como é que seus familiares a deixavam sair de casa com aquela idade e com aquele tempo!
     Mais adiante, um casal de namorados atravessava a rua, mãos enlaçadas, corpos colados um no outro, certamente pra se aquecerem do frio; caminhavam apressados, quase correndo. Sobre suas cabeças um único guarda-chuva tentava abrigar-lhes da chuva, porém  o vento era tão forte que suas varetas contorciam-se e dobravam-se, parecendo estar ensaiando passos de uma dança em ritmo frenético.
     Até os cães, encolhidos e encharcados, se abrigavam sob as marquises dos edifícios e casas.
     Na praça principal do centro, um  mendigo parecia alheio a tudo e a todos; vez por outra emborcava uma “garrafa” garganta abaixo, talvez uma “pinga” para lhe aquecer o corpo e  espírito, amenizando-lhe um pouco do seu sofrimento. Seus lábios se moviam e eu fiquei imaginando qual seria o assunto que fazia com que aquele homem ainda tivesse vontade de sorrir.
     Decidi, então, que deveria fazer alguma coisa da minha vida. Após alguns minutos, entre pensamentos e devaneios, resolvi postergar o pagamento das contas e ir embora.
     Chegando em casa, encontrei a lareira acesa e aquecendo o ambiente da casa que eu mais gostava: a sala. Ufa! Que alívio!
     Sentei-me no sofá retrátil, estiquei as pernas, fechei os olhos e orei, agradecendo a Deus por ter um lar bem quentinho e, em seguida, implorei-LHE que fizesse o tempo melhorar, amenizando o sofrimento daquelas pessoas desprovidas de um teto para morar. 
                                                             Alda Maria Kruse da Costa 

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